C atecismo M aior de S ão P io X
P apa S ão P io X
Catecismo Maior de S. Pio X
COMPENDIO DELLA DOTTRINA CRISTIANA PRESCRITTO DA SUA SANTITÀ PAPA PIO X ALLE DIOCESI DELLA PROVINCIA DI ROMA, ROMA.
Conforme edição originalmente publicada por
TIPOGRAFIA VATICANA
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Com atualizações essenciais da edição de 1976.
Edição exclusivamente para distribuição gratuita eletrônica. Tradução não oficial.
P rólogo
O Catecismo de São Pio X é uma providencial iniciativa
deste Santo Papa, de alma profundamente pastoral, em divulgar um catecismo simples, breve, popular e de uso uniforme por todos os católicos.
Seu objetivo é disseminar e resumir o Catecismo Romano, produto importante do Concílio de Trento (realizado de 1545 a 1563, na Província autônoma de Trento, Itália), considerado um dos mais importantes da história da Igreja.
Escrito pelo próprio Papa São Pio X em 1905, seu amoroso zelo paternal ansiava tornar os católicos mais informados e co nhecedores de sua fé e doutrina.
Adota o clássico “método dialógico de perguntas e respos tas” e apresenta um conhecimento teológico básico, mas essen cial da doutrina católica. Este método, pensado e desenvolvido para leigos, aliado à sua linguagem clara e concisa, é extrema mente didático para a formação de jovens e adultos católicos.
Sem dúvida, um dos textos fundamentais da história, capaz de promover uma mudança radical na alma do homem e, con sequentemente, na cultura e costumes da sociedade.
A presente edição, completa, está disposta em 994 pergun tas e respostas, e estruturada da seguinte maneira em fiel obser vância aos escritos originais:
Introdução - onde estão expostas as principais orações e fór mulas da doutrina católica;
Lição Preliminar: Da Doutrina Cristã e suas partes principais; Primeira Parte: Do Símbolo dos Apóstolos, chamado vulgar mente o Credo;
Segunda Parte: Da Oração;
Terceira Parte: Dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja; Quarta Parte: Dos Sacramentos;
Quinta Parte: Das virtudes principais e de outras coisas que o cristão deve saber — nesta última parte, expõem-se a doutrina sobre as virtudes, o pecado, as bem-aventuranças, a Tradição apostólica (oral e escrita), as boas obras (com particular desta
que às obras de misericórdia) e os novíssimos.
Instruções sobre as festas do Senhor, da Santíssima Virgem e dos Santos, subdivide-se em duas partes.
Breve História da Religião , em sua primeira parte resume a História do Antigo Testamento, na segunda parte resume a His tória do Novo Testamento e, por último, uma Breve História da Igreja.
A presente edição ainda contém um apêndice com esclare cimentos sobre a celebração do Santo Sacrifício da Missa, con forme estabelecida na Bula Quo Primum Tempore pelo Papa S. Pio V, e sobre o uso lícito de sua celebração, nunca ab-rogado, conforme promulgado em 7 de julho de 2007 pelo Papa Bento XVI em seu Motu Proprio Summorum Pontificum . Acompanha ainda um Ordinário da Missa em latim/português, e conclui com a sugestão de algumas piedosas orações.
Livro de cabeceira para todo fiel católico, imprescindível para leitura e reflexão pessoal, em família, em grupos de estu dos e de catequese.
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Atualidade do Catecismo de S. Pio X
E m 2003, o então cardeal Joseph Ratzinger, posteriormente
Papa Bento XVI, afirmou que o Catecismo de São Pio X continua ainda válido, porque “a fé como tal é sempre idên tica. Portanto, o Catecismo de São Pio X conserva sempre o seu valor. O que pode mudar é a maneira de transmitir os conteúdos da fé. [...] Mas isso não impede que possa haver pessoas ou grupos de pessoas que se sintam mais à vontade com o Catecismo de São Pio X. É preciso não esquecer que aquele Catecismo [...] era fruto da experiência catequética pessoal de Giuseppe Sarto [...]. Também por isso, o Catecismo de São
Pio X poderá continuar a ter no futuro alguns amigos” . [Cf. Revista 30Dias , abril de 2003, O Ca
tecismo num mundo pós-cristão.]
C atecismo M aior de S ão P io X
Introdução
Persignar-se
Pelo sinal † da santa cruz, livrai-nos, Deus † nosso Senhor, dos nossos † inimi gos. Em nome do Pai, † e do Filho † e do Espírito Santo. † Amém.
Per signun † crucis, de † inimicis nostris libera-nos Deus † noster. In nonime Pa tris † et Fílio † et Spitiui Sanc to. † Amen.
Credo
Creio em Deus Padre, todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, um só seu Filho, nos
so Senhor, o qual foi concebi do do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem; padeceu sob o poder de Pôncio Pila tos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos infer nos; ao terceiro dia ressurgiu dos mortos; subiu aos céus, está sentado à mão direita de Deus Padre todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos; creio no Espírito Santo; na santa Igre ja Católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna. Amém.
Credo in Deum, Patrem omnipoténtem, Creatórem caeli et terrae. Et in Jesum Christum, Filium eius úni
cum, Dóminum nostrum: qui concéptus est de Spíri tu Sancto, natus ex María Virgine, passus sub Pontio Piláto, crucifíxus, mórtuus, et sepúltus: descéndit ad ín feros; tértia die resurréxit a mórtuis; ascéndit ad caelos; sedet ad déxteram Dei Patris omnipoténtis: inde ventúrus est judicare vivos et mórtuos. Credo in Spiritum Sanctum, sanctam Ecelésiam cathóli cam, Sanctórum communio nem, remissiónem peccató rum carnis resurrectiónem, vitam aetérnam. Amen.
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Padre nosso
Padre nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vos
sa vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje; e per doai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação; R/. Mas livrai-nos do mal. Amém.
Ave Maria
Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mu lheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
R/. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecado res, agora e na hora da nossa morte. Amém.
Pater noster, qui es in caelis Sanctificétur nomen tuum: Advéniat regnum tuum: Fiat voluntas tua, sicut in caelo, et in terra. Panem nostrum quotidi
ánum da nobis hódie: Et dimítte nobis débita nos tra, sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris. Et ne nos indúcas in tentatiónem. R/. Sed líbera nos a malo. Amen
Ave, María, grátia plena: Dóminus tecum: benedícta tu in muliéribus, et benedic tus fructus ventris tui Jesus.
R/. Sancta María, Mater Dei, ora pro nobis peccatóri bus, nunc et in hora mortis nostrae. Amen
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Salve Rainha
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degreda
dos filhos de Eva; a vós sus piramos, gemendo e choran do neste vale de lágrimas. Eia, pois advogada nossa, esses vossos olhos miseri cordiosos a nós volvei; e de pois deste desterro nos mos trai Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Vir gem Maria.
V/. Rogai por nós, santa Mãe de Deus,
R/. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Glória
V/. Glória ao Pai, ao Fi lho e ao Espírito Santo. R/. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos sé culos. Amém.
Salve, Regina, Mater mi sericordiae, vita, dulcédo et spes nostra, salve. Ad te cla mamus, éxsules fiIii Evae. Ad te suspirámus geméntes et flentes in hac lacrimárum valle. Eia ergo, advocáta nostra, illos tuos misericór des óculos ad nos convérte. Et Jesum benedíctum fruc tun Ventris tui, nobis, post hoc exsílium, osténde. O cle mens, o pia, o dulcis Virgo María!
V/. Ora pro nobis, sanc ta Dei Génitrix.
R/. Ut digni efficiámur promissiónibus Christi.
V/. Glória Patri, et Fílio, et Spíritui Sancto.
R/. Sicut erat in pricípio, et nunc, et semper, et in saé cula saeculórum. Amen.
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Ato de Contrição
Meu Senhor Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Cria dor, Pai e Redentor meu, por ser vós quem sois e porque vos amo sobre todas as coisas, pesa-me de todo o meu coração de vos ter ofendido, proponho firmemente a emenda de minha vida para nunca mais pecar, apartar-me de todas ocasiões de ofender-vos, confessar-me e cumprir a penitência que me foi imposta. Vos ofereço, Senhor minha vida, obras, e trabalhos em satisfação de todos os meus pecados e assim como vos suplico, assim confio em vossa bondade e misericórdia infinitas que me perdoareis pelos méritos de vosso preciosíssimo sangue, paixão e morte e me dareis graça para emendar-me e perseverar em vosso santo serviço até o fim de minha vida.
Amém.
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M andamentos da lei de D eus
Os mandamentos da lei de Deus são dez: os três primeiros pertencem à honra de Deus e os outros sete ao proveito do pró ximo.
1) Amar a Deus sobre todas as coisas.
2) Não tomar seu santo nome em vão.
3) Guardar os domingos e festas.
4) Honrar pai e mãe.
5) Não matar.
6) Não pecar contra a castidade.
7) Não furtar.
8) Não levantar falso testemunho.
9) Não desejar a mulher do próximo.
10) Não cobiçar as coisas alheias.
Estes dez mandamentos se encerram em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
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Mandamentos da Igreja
Os mandamentos da Igreja são cinco:
1) Ouvir Missa inteira nos domingos e festas de guar da.
2) Confessar-se ao menos uma vez cada ano. 3) Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição. 4) Jejuar e abster-se de carne, quando manda a santa madre Igreja.
5) Pagar dízimos, segundo o costume.
Sacramentos
Os sacramentos instituídos por Jesus Cristo são sete: 1) Batismo.
2) Confirmação.
3) Eucaristia.
4) Penitência ou Confissão.
5) Extrema Unção.
6) Ordem.
7) Matrimônio.
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L ição P reliminar
D a D outrina C ristã
suas partes principais
Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos.
Actus Apostolorum 11, 25-26.
1) Sois cristão?
- Sim, sou cristão pela graça de Deus.
2) Por que dizeis pela graça de Deus?
Digo pela graça de Deus porque ser cristão é um dom total mente gratuito de Deus nosso Senhor, que não poderia merecer.
3) Quem é verdadeiro cristão?
Verdadeiro cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina cristã e obedece aos legítimos pastores da Igreja.
4) Que é a doutrina cristã?
A Doutrina Cristã é a doutrina que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou, para nos mostrar o camino da salvação.
5) É necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo? Certamente é necessário aprender a doutrina ensinada por Jesus Cristo, e cometem falta grave aqueles que se descuidam de aprendê-la.
6) Os pais e os empregadores estão obrigados a mandar seus filhos e dependentes ao Catecismo?
Os pais e patrões têm obrigação de providenciar que seus fi lhos e dependentes aprendam a Doutrina Cristã; e são culpados diante de Deus se negligenciam este dever.
7) De quem devemos receber e aprender a Doutrina Cristã? Devemos receber e aprender a Doutrina Cristã da Santa Igreja Católica.
8) Como podemos ter a certeza de que a Doutrina Cristã, que re cebemos da Santa Igreja Católica, é verdadeira?
Acreditamos que a Doutrina Cristã que recebemos da Igreja Católica é verdadeira porque Jesus Cristo, divino autor desta doutrina, confiou-a por meio dos seus Apóstolos à Igreja Cató lica, por Ele fundada e constituída mestra infalível de todos os homens, prometendo-lhe a sua divina assistência até à consu mação dos séculos.
9) Há outras provas da verdade da Doutrina Cristã?
A verdade da Doutrina Cristã é também demonstrada pela eminente santidade de tantos que a professaram e professam, pela heroica fortaleza dos mártires, pela sua rápida e admirável propagação no mundo e pela sua plena conservação através de tantos séculos de muitas e contínuas lutas.
10) Quantas e quais são as partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã?
As partes principais e mais necessárias da Doutrina Cristã são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e os Sacra mentos.
11) O que o Credo nos ensina?
O Credo nos ensina os principais artigos de nossa santa Fé.
12) Que nos ensina o Pai-Nosso?
O Pai-Nosso ensina-nos tudo o que devemos esperar de Deus, e tudo o que a Ele devemos pedir.
13) Que nos ensinam os Mandamentos?
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Os Mandamentos nos ensinam tudo o que precisamos fazer para agradar a Deus: que se resume em amar a Deus sobre to das as coisas e amar ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
14) Que nos ensina a doutrina dos Sacramentos?
A doutrina dos Sacramentos faz-nos conhecer a natureza e o uso adequado dos meios instituídos por Jesus Cristo para perdoar-nos os pecados, comunicar-nos a sua graça, infundir e aumentar em nós as virtudes da Fé, da Esperança e da Carida
de.
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P rimeira P arte
D o S ímbolo dos A póstolos ,
chamado vulgarmente o “C redo ”
A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos, antepassados. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível. Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício bem superior ao de Caim, e mereceu ser chamado justo, porque Deus aceitou as suas ofertas. Graças a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala.
Hebraeos XI-1,4.
CAPÍTULO I
D o “C redo ” em geral
15) Qual é a primeira parte da Doutrina Cristã?
A primeira parte da Doutrina Cristã é o Símbolo dos Após tolos, comumente chamado Credo.
16) Por que chamais ao Credo Símbolo dos Apóstolos? Chamo ao Credo de Símbolo dos Apóstolos porque é um compêndio das verdades da Fé ensinadas pelos Apóstolos.
17) Quantos são os artigos do Credo?
Os artigos do Credo são doze.
18) Dizei-os.
1º Creio em Deus Padre, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.
2º E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor. 3º Que foi concebido por obra e graça do Espírito Santo; nasceu de Maria Virgem.
4º Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucifica do, morto e sepultado.
5º Desceu aos infernos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos.
6º Subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso.
7º De onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. 8º Creio no Espírito Santo.
9º Na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos. 10º Na remissão dos pecados.
11º Na ressurreição da carne.
12º Na vida eterna. Amém.
19) Que quer dizer a palavra “Credo” ou “creio” que dizeis no começo do Símbolo?
A palavra “Credo” ou “creio” quer dizer: eu tenho por ab solutamente verdadeiro tudo o que está contido nestes doze artigos: e eu acredito mais firmemente do que se o visse com os meus olhos, porque Deus, que não pode enganar-Se nem en ganar-nos, revelou estas verdades à Santa Igreja Católica, e por meio dela as revela também a nós.
20) Que contêm os artigos do Credo?
Os artigos do Credo contêm tudo o que de mais importante devemos crer acerca de Deus, de Jesus Cristo e da Igreja, sua Esposa.
21) É proveitoso rezar frequentemente o Credo?
É proveitosíssimo rezar frequentemente o Credo, para im primirmos cada vez mais em nosso coração as verdades da Fé.
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CAPÍTULO II
D o primeiro artigo do “C redo ”
Por isso, também nós, desde o dia em que o soubemos, não cessamos de orar por vós e pedir a Deus para que vos conceda ple no conhecimento da sua vontade, perfeita sabedoria e penetração espiritual, para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus. Para que, confortados em tudo pelo seu glorioso poder, tenhais a paciência de tudo suportar com longanimidade. Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos santos na luz. Ele nos ar
rancou do poder das trevas e nos introduziu no Reino de seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Colossenses I, 9-14.
§ 1º De Deus Padre e da Criação
Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede tam bém em mim.
Joannem XIV, 1..
22) Que nos ensina o primeiro artigo do Credo: creio em Deus Padre, todo-poderoso, Criador do céu e da terra?
O primeiro artigo do Credo nos ensina que há um só Deus; que é onipotente; que criou o céu e a terra e todas as coisas que no céu e na terra se contêm, ou seja, todo o universo.
23) Como sabemos que há Deus?
Sabemos que há Deus, porque a nossa razão o demonstra e a fé confirma.
24) Por que se diz que Deus é Pai?
Diz-se que Deus é Pai:
1º porque é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, do Filho por Ele gerado; 2º porque Deus é Pai de todos os homens que Ele criou, conserva e governa;
3º porque, finalmente, é Pai, pela graça, de todos os bons cristãos, razão pela qual eles são chamados filhos adotivos de Deus.
25) Por que o Pai é a primeira Pessoa da Santíssima Trindade? O Pai é a primeira Pessoa da Santíssima Trindade, porque não procede de outra Pessoa, mas é o princípio das duas outras Pessoas, que são o Filho e o Espírito Santo.
26) Que quer dizer a palavra onipotente ou todo-poderoso? A palavra onipotente ou todo-poderoso quer dizer que Deus pode fazer tudo o que quer.
27) Deus não pode pecar nem morrer; como então dizeis que Ele pode fazer tudo?
Diz-se que Deus pode fazer tudo, embora não possa pecar nem morrer, porque o poder pecar ou morrer não é efeito de potência, mas de fraqueza, o que não pode existir em Deus, que é perfeitíssimo.
28) Que significa: Criador do céu e da terra?
Criar é fazer algo do nada; portanto, diz-se Deus Criador do céu e da terra, porque do nada Ele fez o céu e a terra, e todas as coisas que no céu e na terra se contêm, ou seja, todo o universo.
29) O mundo foi criado somente pelo Padre?
O mundo foi criado igualmente por todas as três Pessoas divinas, porque tudo o que uma Pessoa faz em relação às criatu ras, fazem-no com um só e mesmo ato também as outras duas.
30) Por que então a criação é atribuída principalmente ao Pai?
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A criação é atribuída principalmente ao Pai, porque a cria ção é o resultado da onipotência divina, atribuída especialmen te ao Pai, como se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três Pessoas tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade.
31) Deus cuida do mundo e de todas as coisas que criou? Sim, Deus cuida do mundo e de todas as coisas que criou, preserva-as e as governa com a sua infinita bondade e sabedo ria, e nada acontece aqui no mundo, sem que Deus o queira, ou o permita.
32) Por que dizeis que nada acontece, sem que Deus o queira, ou o permita?
Diz-se que nada acontece no mundo, sem que Deus o quei ra, ou o permita, porque há coisas que Deus quer e ordena, e outras que Ele não quer, porém, não impede, como o pecado.
33) Por que Deus não impede o pecado?
Deus não impede o pecado, porque até mesmo do abuso que o homem faz da liberdade que lhe concedeu, sabe tirar um bem, e fazer resplandecer ainda mais a sua misericórdia ou a sua justiça.
§ 2º - Dos Anjos
Vou descobrir-vos a verdade, sem nada vos ocultar. Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor. Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. Agora o Senhor enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho. Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor.
Ao ouvir estas palavras, eles ficaram fora de si, e, tremendo, prostraram-se com o rosto por terra.
Mas o anjo disse-lhes: A paz seja convosco: não temais. Quan do eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus: rendei-lhe graças, pois, com cânticos de louvor. Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas o meu alimento é um manjar invisível, e mi-
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nha bebida não pode ser vista pelos homens. É chegado o tempo de voltar para aquele que me enviou: vós, porém, bendizei a Deus e publicai todas as suas maravilhas.
Tobis XII, 11-20.
34) Quais são as criaturas mais nobres que Deus criou? As criaturas mais nobres criadas por Deus são os Anjos.
35) Quem são os Anjos?
Os Anjos são criaturas inteligentes e puramente espirituais.
36) Com que propósito Deus criou os Anjos?
Deus criou os Anjos para ser por eles honrado e servido, e para torná-los eternamente felizes.
37) Que forma ou figura têm os Anjos?
Os Anjos não têm forma nem figura alguma sensível, por que são puros espíritos, criados por Deus para subsistirem, sem precisarem estar unidos a corpo algum.
38) Por que então os Anjos são representados sob formas sensí veis?
Os Anjos são representados sob formas sensíveis: 1º para ajudar a nossa imaginação; 2º porque muitas vezes assim apare ceram aos homens, como lemos na Sagrada Escritura.
39) Todos os Anjos permaneceram fiéis a Deus?
Não, nem todos os Anjos permaneceram fiéis a Deus; mas, muitos deles, por soberba pretenderam ser iguais a Ele e inde pendentes do seu poder; e por este pecado foram desterrados para sempre do Paraíso e condenados ao Inferno.
40) Como se chamam os Anjos expulsos para sempre do Paraíso e condenados ao Inferno?
Os Anjos excluídos para sempre do Paraíso e condenados ao Inferno são chamados de demônios, e seu líder é denomina do Lúcifer ou Satanás.
41) Os demônios podem nos fazer algum mal?
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Sim, os demônios podem fazer-nos muito mal a alma e ao corpo, se Deus lhes der permissão, sobretudo tentando-nos a pecar.
42) Por que nos tentam?
Os demônios nos tentam pela inveja que têm de nós, o que lhes faz desejar a nossa condenação eterna, e por ódio a Deus, cuja imagem em nós resplandece.
43) E por que Deus permite as tentações?
Deus permite as tentações para que nós, vencendo-as com a sua graça, exercitemos as virtudes e alcancemos merecimentos para o Céu.
44) Como podemos vencer as tentações?
As tentações são vencidas com a vigilância, com a oração e com a mortificação cristã.
45) Como são chamados os Anjos que permaneceram fiéis a Deus? Os Anjos que permaneceram fiéis a Deus são chamados de Anjos bons, Espíritos celestes, ou simplesmente Anjos.
46) E o que aconteceu aos Anjos que permaneceram fiéis a Deus? Os Anjos que permaneceram fiéis a Deus foram confirma dos em graça, gozam para sempre da vista de Deus, amam-No, bendizem-No e louvam-No eternamente.
47) Deus serve-se dos Anjos como seus ministros?
Sim, Deus serve-se dos Anjos como seus ministros, e espe cialmente confia a muitos deles o ofício de nossos guardiões e protetores.
48) Devemos ter uma devoção especial para com nosso Anjo da guarda?
Sim, devemos ter particular devoção ao nosso Anjo da guar da, honrá-lo, implorar o seu auxílio, seguir as suas inspirações e ser-lhe reconhecidos pela contínua assistência que nos dá.
§ 3º - Do Homem
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E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente. Então plantou o Senhor Deus um jardim, da banda do oriente, no Éden; e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços. O nome do primeiro é Pisom: este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro; e o ouro dessa terra é bom: ali há o bdélio, e a pedra de berilo. O nome do segundo rio é Giom: este é o que rodeia toda a terra de Cuche. O nome do terceiro rio é Tigre: este é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto rio é o Eufrates. Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Édem para o lavrar e guardar.
Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea. Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais o campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome. Assim o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.
Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar; e da costela que o senhor Deus lhe tomara, for mou a mulher e a trouxe ao homem.
Então disse o homem: Esta é agora osso dos meus ossos, e car ne da minha carne; ela será chamada virago, porquanto do varão foi tomada.
Genesis II-7-23.
49) Qual é a criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra? A criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra é o homem.
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50) Que é o homem?
O homem é uma criatura racional, composta de alma e cor po.
51) Que é a alma?
A alma é a parte mais nobre do homem, porque é substân cia espiritual dotada de inteligência e de vontade, capaz de co nhecer a Deus e de O possuir eternamente.
52) Pode-se ver e tocar a alma humana?
Não se pode ver nem tocar a alma humana, porque é espí rito.
53) A alma humana morre com o corpo?
A alma humana nunca morre; a fé e a própria razão provam que ela é imortal.
54) O homem é livre em suas ações?
Sim, o homem é livre em suas ações; e cada um de nós sente, dentro de si mesmo, que pode fazer uma ação ou deixar de fazê- -la, ou fazer uma ao invés de outra.
55) Explicai com um exemplo a liberdade humana.
Se eu voluntariamente contar uma mentira, sinto que po deria deixar de contá-la e ficar em silêncio, e que poderia até mesmo falar de maneira diferente, dizendo a verdade.
56) Por que se diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus?
Diz-se que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque a alma humana é espiritual e racional, livre na sua ação, capaz de conhecer e de amar a Deus, e gozá-Lo eterna mente: perfeições que refletem em nós um raio da infinita gran deza do Senhor.
57) Em que estado Deus colocou nossos primeiros pais, Adão e Eva?
Deus colocou Adão e Eva em estado de inocência e graça santificante, mas logo caíram desse estado pelo pecado.
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58) Além da inocência e da graça santificante, quais outros dons Deus concedeu aos nossos primeiros pais?
Além da inocência e da graça santificante, Deus concedeu aos nossos primeiros pais outros dons, que eles deviam trans mitir, juntamente com a graça santificante, aos seus descenden tes, e eram: a integridade, que é a perfeita sujeição dos sentidos à razão; a imortalidade; a imunidade a todas as dores e misé rias; e a ciência proporcionada ao seu estado.
59) Qual foi o pecado de Adão?
O pecado de Adão foi um pecado de soberba e de grave desobediência.
60) Qual foi o castigo do pecado de Adão e Eva?
Adão e Eva perderam a graça de Deus e o direito que ti nham ao céu, foram expulsos do Paraíso Terrestre, sujeitos a muitas misérias na alma e no corpo, e condenados a morrer.
61) Se Adão e Eva não tivessem pecado, estariam isentos da mor te?
Se Adão e Eva não tivessem pecado, mas se tivessem con servado fiéis a Deus, depois de uma permanência feliz e em paz neste mundo, teriam sido levados por Deus ao Céu, sem mor rer, para desfrutar a vida eterna e gloriosa.
62) Estes dons eram devidos ao homem?
Estes dons não eram devidos ao homem, mas eram absolu tamente gratuitos e sobrenaturais; e por isso, tendo Adão deso bedecido ao preceito divino, Deus pôde, sem injustiça, privar deles a Adão e a toda a sua descendência.
63) Este pecado é próprio unicamente de Adão?
Este pecado não é só de Adão, mas é também nosso, embo ra de forma diferente. É próprio de Adão, porque ele o come teu com um ato da sua vontade, e portanto nele foi pessoal. É próprio nosso, porque tendo Adão pecado como cabeça e fonte de todo o gênero humano, é transmitido por geração natural a todos os seus descendentes, e por isso é para nós pecado original .
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64) Como é possível que o pecado original se transmita a todos os homens?
O pecado original transmite-se a todos os homens porque havendo Deus conferido ao gênero humano, em Adão, a graça santificante e os outros dons preternaturais, com a condição de que ele não desobedecesse, e tendo este desobedecido na sua qualidade de cabeça e pai do gênero humano, tornou a natureza humana rebelde a Deus. Por isso a natureza humana é trans
mitida a todos os descendentes de Adão em estado de rebelião contra Deus, destituída da graça divina e dos outros dons.
65) Quais danos o pecado original nos causou?
Os danos em nós causados pelo pecado original são: a pri vação da graça, a perda da bem-aventurança, a ignorância, a má inclinação, todas as misérias desta vida e, finalmente, a morte.
66) Todos os homens contraem o pecado original?
Sim, todos os homens contraem o pecado original, exceto a Santíssima Virgem que dele foi preservada por Deus por um privilégio especial, em vista dos méritos de Jesus Cristo, nosso Salvador. 1
67) Depois do pecado de Adão os homens já não poderiam salvar- -se?
Depois do pecado de Adão, os homens já não poderiam sal var-se, se Deus não tivesse usado para com eles de misericórdia.
68) Qual foi a misericórdia oferecida por Deus para com o gênero humano?
A misericórdia oferecida por Deus para com o gênero hu mano foi a promessa imediata, a Adão, de um Redentor divino, ou Messias, e enviá-Lo depois a seu tempo, para libertar os ho mens da escravidão do demônio e do pecado.
69) Quem é o Messias prometido?
O Messias prometido é Jesus Cristo, como nos ensina o se gundo artigo do Credo.
1 Nota do Tradutor - Este privilégio a Igreja o define como a “Imaculada Conceição” de Maria Santíssima.
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CAPÍTULO III
D o segundo artigo do “C redo ”
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia.
Joannem VI, 44.
Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhe ce o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo.
Mathæum XI, 27.
70) Que nos ensina o segundo artigo do Credo: Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor?
O segundo artigo do Credo ensina-nos que o Filho de Deus é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade; que Ele é Deus eter no, todo-poderoso, Criador e Senhor, assim como o Pai; que se fez homem para nos salvar; e que o Filho de Deus feito homem se chama Jesus Cristo.
71) Por que a segunda Pessoa é chamada Filho?
A segunda Pessoa é chamada Filho porque é gerada pelo Pai por via de inteligência, desde toda a eternidade; e por isso é também chamada Verbo eterno do Pai.
72) Sendo também nós filhos de Deus, por que Jesus Cristo é cha mado Filho único de Deus Pai?
Jesus Cristo é chamado Filho único de Deus Pai porque só Ele é seu Filho por natureza, e nós somos seus filhos por criação e por adoção.
73) Por que Jesus Cristo é chamado Nosso Senhor?
Jesus Cristo é chamado Nosso Senhor porque, enquanto Deus, além de nos ter criado juntamente com o Pai e o Espírito Santo, também redimiu-nos, enquanto Deus e homem.
74) Por que o Filho de Deus feito homem chama-se Jesus? O Filho de Deus feito homem chama-se Jesus que quer di zer Salvador, porque nos salvou da morte eterna merecida por nossos pecados.
75) Quem deu o nome de Jesus ao Filho de Deus feito homem? O nome de Jesus, Filho de Deus feito homem, foi dado pelo mesmo Padre eterno através do Arcanjo São Gabriel, quando este anunciou à Santíssima Virgem o mistério da Encarnação.
76) Por que o Filho de Deus feito homem é também chamado Cris to?
O filho de Deus feito homem é também chamado Cristo, que significa Ungido e consagrado, porque nos tempos antigos ungiam-se os reis, os sacerdotes e os profetas e Jesus é o Rei dos reis, Sumo Sacerdote e Sumo Profeta.
77) Foi Jesus Cristo verdadeiramente ungido e consagrado com unção corporal?
A unção de Jesus Cristo não foi corporal, como a dos antigos reis, sacerdotes e profetas, mas toda espiritual e divina, porque a plenitude da divindade n’Ele habita substancialmente.
78) Os homens tiveram algum conhecimento de Jesus Cristo antes da sua vinda?
Sim, os homens tiveram conhecimento de Jesus Cristo antes de sua vinda, pela promessa do Messias, que Deus fez aos nos sos primeiros pais Adão e Eva e a renovou aos Santos Patriarcas; e também pelas profecias e muitas figuras que O designavam.
79) Como sabemos que Jesus Cristo é verdadeiramente o Messias e o Redentor prometido?
Sabemos que Jesus Cristo é verdadeiramente o Messias e o Redentor prometido porque unicamente n’Ele se cumpriu: 1º tudo o que anunciavam as profecias;
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2º tudo o que representavam as figuras do Antigo Tes tamento.
80) Que prediziam as profecias acerca do Redentor?
As profecias prediziam acerca do Redentor: a tribo e a famí lia das quais sairia; o lugar e o tempo de seu nascimento; os seus milagres e as mais minuciosas circunstâncias de sua Paixão e morte; a sua ressurreição e ascensão ao Céu; o seu reino espiri tual, universal e perpétuo, que é a Santa Igreja Católica.
81) Quais são as principais figuras do Redentor no Antigo Tes tamento?
As principais figuras do Redentor no Antigo Testamento são o inocente Abel, o sumo sacerdote Melquisedec, o sacrifício de Isaac, José vendido pelos irmãos, o profeta Jonas, o cordeiro pascal e a serpente de bronze, levantada por Moisés no deserto.
82) Como sabemos que Jesus Cristo é verdadeiro Deus? Sabemos que Jesus Cristo é verdadeiro Deus:
1º pelo testemunho do Padre Eterno, quando disse: “Este é O meu Filho muito amado, no qual tenho posto todas as minhas complacências: ouvi-O”;
2º pela afirmação do próprio Jesus Cristo, confirmada com os mais extraordinários milagres;
3º pela doutrina dos Apóstolos;
4º pela tradição constante da Igreja Católica.
83) Quais os principais milagres realizados por Jesus Cristo? Os principais milagres relizados por Jesus Cristo são, além da sua ressurreição, a saúde restituída aos enfermos, a vista aos cegos, o ouvido aos surdos, a vida aos mortos.
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CAPÍTULO IV
D o terceiro artigo do “C redo ”
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cida de da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.
Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é con tigo.
Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.
O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Al tíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.
Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?
Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.
Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.
E o anjo afastou-se dela.
Lucam I, 26-38.
84) Que nos ensina o terceiro artigo do Credo: foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem?
O terceiro artigo do Credo ensina-nos que o Filho de Deus tomou um corpo e uma alma, como nós temos, no seio purís simo de Maria Santíssima, pelo poder do Espírito Santo, e que nasceu desta Virgem.
85) O Pai e o Filho também concorreram para formar o corpo e para criar a alma de Jesus Cristo?
Sim, para formar o corpo e para criar a alma de Jesus Cristo, concorreram todas as três Pessoas divinas.
86) Por que se diz somente: foi concebido pelo poder do Espírito Santo?
Diz-se somente: foi concebido pelo poder do Espírito Santo, porque a Encarnação do Filho de Deus é obra de bondade e de amor, e as obras de bondade e de amor são atribuídas ao Espí rito Santo.
87) Fazendo-se homem, o Filho deixou de ser Deus?
Não. O Filho de Deus se fez homem sem deixar de ser Deus.
88) Então Jesus Cristo é Deus e homem ao mesmo tempo? Sim, o Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo, é Deus e ho mem ao mesmo tempo, perfeito Deus e perfeito homem.
89) Então há duas naturezas em Jesus Cristo?
Sim, em Jesus Cristo, que é Deus e homem, há duas nature zas: a divina e a humana.
90) Haverá em Jesus Cristo duas pessoas, a divina e a humana? Não. No Filho de Deus feito homem há uma só Pessoa, que é a divina.
91) Quantas vontades há em Jesus Cristo?
Em Jesus Cristo há duas vontades, uma divina e outra hu mana.
92) Jesus Cristo tinha livre-arbítrio?
Sim, Jesus Cristo tinha livre-arbítrio, mas não podia fazer o mal, porque poder fazer o mal é defeito, e não a perfeição da liberdade.
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93) O Filho de Deus e o Filho de Maria Santíssima são a mesma pessoa?
O Filho de Deus e o Filho de Maria Santíssima são a mes ma Pessoa, isto é, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
94) A Virgem Maria é Mãe de Deus?
Sim, Maria Santíssima é Mãe de Deus, porque ela é a Mãe de Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus.
95) De que maneira Maria se tornou a Mãe de Jesus Cristo? Maria tornou-se Mãe de Jesus Cristo unicamente por obra e poder do Espírito Santo.
96) É de fé que Maria foi sempre Virgem?
Sim, é de fé que Maria Santíssima foi sempre Virgem, e é chamada a Virgem por excelência. 2
2 Nota do Tradutor - A Perpétua Virgindade de Maria é o mais antigo dogma mariano da Igreja Católica e ensina que Maria é virgem antes, durante e depois do parto. Afirma a “real e perpétua virgindade mesmo no ato de dar à luz o Filho de Deus feito homem.” Assim Maria foi sempre Virgem pelo resto de sua vida, sendo o nascimento de Jesus como seu filho biológico, uma concepção mila
grosa. No ano 107, S. Inácio de Antioquia já descrevia a virgindade de Maria. São Tomás de Aquino também ensinou esta doutrina ( Summa theologiae III.28.2) que Maria deu o nascimento miraculoso sem abertura do útero, e sem prejuízo para o hímen. Esta doutrina já era um dogma desde o cristianismo primitivo, tendo sido declarada por notáveis escritores como São Justino Mártir e Orígenes. O Papa Paulo IV o reconfirmou no Cum quorundam de 7 de Agosto de 1555, no Concílio de Trento.
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CAPÍTULO V
D o quarto artigo do “C redo ”
Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Jesus respondeu: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim? Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Rei no não é deste mundo. Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz. Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?... Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime al
gum. Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos solte um preso. Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?
Então todos gritaram novamente e disseram: Não! A este não! Mas a Barrabás! (Barrabás era um salteador.) Pilatos mandou então flagelar Jesus. Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puse ram-lha sobre a cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas.
Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Eis o homem! Quando os pontífices e os guardas o viram, gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Falou-lhes Pila
tos: Tomai-o vós e crucificai-o, pois eu não acho nele culpa alguma. Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus. Estas palavras impressionaram Pilatos.
Entrou novamente no pretório e perguntou a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe respondeu. Pilatos então lhe disse: Tu não
me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar? Respondeu Jesus: Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso, quem me entregou a ti tem pe cado maior. Desde então Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam: Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se declara contra o imperador. Ouvindo estas pala vras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Lajeado, em hebraico Gábata.
(Era a Preparação para a Páscoa, cerca da hora sexta.) Pilatos disse aos judeus: Eis o vosso rei! Mas eles clamavam: Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o! Pilatos perguntou-lhes: Hei de crucificar o vosso rei? Os sumos sacerdotes responderam: Não temos outro rei senão César! Entregou-o então a eles para que fosse crucificado. Joannem XVIII, 33-40; XIX, 1-16.
97) Que nos ensina o quarto artigo do Credo: padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado?
O quarto artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo, para redimir o mundo com o seu precioso Sangue, padeceu sob Pôncio Pilatos, governador da Judeia, e morreu no madeiro da Cruz, da qual foi descido, e depois sepultado.
98) Que quer dizer a palavra padeceu?
A palavra padeceu exprime todos os sofrimentos suporta dos por Jesus Cristo na sua Paixão.
99) Jesus Cristo padeceu como Deus ou como homem? Jesus Cristo padeceu como homem somente, porque en quanto Deus não poderia padecer nem morrer.
100) Que tipo de suplício era o da cruz?
O suplício da cruz era, naqueles tempos, o mais cruel e ig nominioso de todos os suplícios.
101) Quem condenou Jesus Cristo para ser crucificado? Quem condenou Jesus Cristo para ser crucificado foi Pôncio Pilatos, governador da Judeia que, embora reconhecendo-lhe a inocência; cedeu covardemente às ameaças dos judeus.
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102) Jesus Cristo não poderia livrar-Se das mãos dos judeus e de Pilatos?
Sim, Jesus Cristo podia livrar-Se das mãos dos judeus e de Pilatos; mas, conhecendo que a vontade de seu Pai Eterno era que Ele padecesse e morresse pela nossa salvação, submeteu-Se voluntariamente, saiu ao encontro dos seus inimigos, deixou-Se espontaneamente prender e ser levado à morte.
103) Onde Jesus Cristo foi crucificado?
Jesus Cristo foi crucificado sobre o monte Calvário.
104) Que fez Jesus Cristo na Cruz?
Jesus Cristo na Cruz rezou pelos seus inimigos, deu por Mãe ao discípulo São João, e na pessoa dele a todos nós, a sua própria Mãe, Maria Santíssima; ofereceu a sua morte em sacrifí cio e satisfez à justiça de Deus pelos pecados dos homens.
105) Não seria suficiente que um Anjo viesse satisfazer por nós? Não seria suficiente que viesse um Anjo para satisfazer por nós, porque a ofensa feita a Deus pelo pecado era, de certa ma neira, infinita, e para satisfazê-la era necessário uma pessoa que tivesse um mérito infinito.
106) Para satisfazer à justiça divina era necessário que Jesus Cris to fosse Deus e homem ao mesmo tempo?
Sim, era necessário que Jesus Cristo fosse homem para po der padecer e morrer, e era necessário que fosse Deus, pois seus sofrimentos seriam de valor infinito.
107) Por que era necessário que os méritos de Jesus Cristo fossem de valor infinito?
Era necessário que os méritos de Jesus Cristo fossem de va lor infinito, porque a majestade de Deus, ofendida pelo pecado, é infinita.
108) Era necessário que Jesus Cristo padecesse tanto? Não, não era absolutamente necessário que Jesus Cristo pa decesse tanto, porque o menor dos seus sofrimentos teria sido suficiente para a nossa redenção, pois cada um dos seus atos era de valor infinito.
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109) Por que então Jesus quis sofrer tanto?
Jesus quis sofrer tanto, para satisfazer mais abundante mente à justiça divina, para nos mostrar mais claramente o seu amor, e para nos inspirar maior horror ao pecado.
110) Aconteceram prodígios quando Jesus morreu?
Sim, na morte de Jesus obscureceu-se o sol, a terra tremeu, sepulcros se abriram, e muitos mortos ressuscitaram.
111) Onde foi sepultado o corpo de Jesus Cristo?
O corpo de Jesus Cristo foi sepultado em um sepulcro novo, escavado na rocha do monte, não muito longe do lugar onde foi crucificado.
112) Na morte de Jesus Cristo, separou-se a divindade do corpo e da alma?
Na morte de Jesus Cristo a divindade não se separou nem do corpo nem da alma; mas somente a alma se separou do cor po.
113) Por quem morreu Jesus Cristo?
Jesus Cristo morreu pela salvação de todos os homens, e satisfez por todos.
114) Se Jesus Cristo morreu para a salvação de todos, por que nem todos se salvam?
Jesus Cristo morreu por todos, mas nem todos se salvam, porque nem todos O querem reconhecer, nem todos guardam a sua lei, nem todos se valem dos meios de santificação que nos deixou.
115) Para nos salvarmos não é suficiente que Jesus Cristo tenha morrido por nós?
Para nos salvarmos não é suficiente que Jesus Cristo tenha morrido por nós, mas é necessário que sejam aplicados, a cada um de nós, o fruto e os méritos da sua Paixão e morte, aplicação que ocorre principalmente por meios dos Sacramentos, institu
ídos para este fim pelo mesmo Jesus Cristo; e como muitos ou não recebem os Sacramentos, ou não os recebem com as devi-
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das disposições, eles tornam inútil para si próprios a morte de Jesus Cristo.
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CAPÍTULO VI
D o quinto artigo do “C redo ”
Aliás, é melhor padecer, se Deus assim o quiser, por fazer o bem do que por fazer o mal. Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados - o Justo pelos injustos - para nos conduzir a Deus. Padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes, quando Deus aguardava com paciência, en quanto se edificava a arca, na qual poucas pessoas, isto é, apenas oito se salvaram através da água. Esta água prefigurava o batismo de agora, que vos salva também a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma consciência boa, pela ressurreição de Jesus Cristo.
Esse Jesus Cristo, tendo subido ao céu, está assentado à direita de Deus, depois de ter recebido a submissão dos anjos, dos princi pados e das potestades.
Epistula I Petri III, 17-22.
116) Que nos ensina o quinto artigo do Credo: desceu aos infer nos, ressurgiu dos mortos ao terceiro dia?
O quinto artigo do Credo ensina-nos que a alma de Jesus Cristo, assim que foi separada do corpo, desceu ao Limbo e que, no terceiro dia, uniu-se de volta ao seu corpo, para dele nunca mais se separar.
117) Que se entende aqui por inferno?
Por inferno entende-se aqui o Limbo dos Santos Padres, ou seja, o lugar onde as almas dos justos eram recolhidas e espera vam a redenção de Jesus Cristo.
118) Por que as almas dos justos não foram introduzidas no Para íso antes da morte de Jesus Cristo?
As almas dos justos não foram introduzidas no Paraíso an tes da morte de Jesus Cristo porque pelo pecado de Adão o Pa raíso estava fechado; e convinha que Jesus Cristo, cuja morte o reabriu, fosse o primeiro a nele entrar.
119) Por que Jesus Cristo quis esperar até o terceiro dia para res suscitar?
Jesus Cristo quis esperar até ao terceiro dia para ressuscitar para mostrar, de maneira insofismável, que realmente estava morto.
120) A ressurreição de Jesus Cristo foi semelhante à dos outros homens ressuscitados?
A ressurreição de Jesus Cristo não foi semelhante à dos ou tros homens ressuscitados, porque Jesus Cristo ressuscitou por seu próprio poder, e os outros foram ressuscitados pelo poder de Deus.
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CAPÍTULO VII
D o sexto artigo do “C redo ”
Levantou-se o sumo sacerdote e lhe perguntou: Nada tens a responder ao que essa gente depõe contra ti? Jesus, no entanto, per manecia calado. Disse-lhe o sumo sacerdote: Por Deus vivo, conju ro-te que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus? Jesus respondeu: Sim. Além disso, eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nu vens do céu.
A estas palavras, o sumo sacerdote rasgou suas vestes, excla mando: Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia! Qual o vosso parecer? Eles responderam: Merece a morte! Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas, dizendo: Adivinha, ó Cristo: quem te bateu?
Mathæum XXVI, 62-68.
Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus: Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus. Actus Apostolorum VII 55-56.
121) O que nos ensina o sexto artigo do Credo: subiu ao Céu e está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso?
O sexto artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo, qua renta dias depois de sua ressurreição, na presença de seus discí pulos, por si mesmo subiu ao Céu e que sendo, enquanto Deus, igual ao Padre Eterno em Glória, enquanto homem foi elevado acima de todos os Anjos e de todos os Santos, e constituído Se nhor de todas as coisas.
122) Por que Jesus Cristo, depois de sua ressurreição, permaneceu quarenta dias na terra, antes de subir ao Céu?
Jesus Cristo, depois da sua ressurreição, permaneceu qua renta dias na terra, antes de subir ao Céu, para provar, com vá rias aparições, que ressuscitara verdadeiramente, e para instruir melhor os Apóstolos e confirmá-los nas verdades da fé.
123) Por que Jesus Cristo subiu ao Céu?
Jesus Cristo subiu ao Céu:
1º para tomar posse do seu reino, que havia merecido com sua morte;
2º para preparar o nosso lugar na glória, e para ser nos so Mediador e Advogado junto ao Pai;
3º para enviar o Espírito Santo aos seus Apóstolos. 124) Por que se diz de Jesus Cristo que subiu ao Céu, e de sua Mãe Santíssima se diz que foi assunta ao Céu?
Diz-se de Jesus Cristo que subiu, e de sua Mãe Santíssima que foi levada ao Céu, porque Jesus Cristo, sendo Homem- -Deus, ascendeu ao Céu por virtude própria; mas sua Mãe, que era criatura, embora a mais digna de todas, foi levada ao Céu pelo poder de Deus.
125) Explicai as palavras: Está sentado à direita de Deus Padre todo-poderoso.
As palavras: está sentado significam a posse pacífica que Jesus Cristo tem da sua glória, e as palavras à direita de Deus Padre todo-poderoso expressam que Ele tem o lugar de honra sobre todas as criaturas.
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CAPÍTULO VIII
D o sétimo artigo do “C redo ”
Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os an jos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me aco
lhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.
Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vesti mos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vi mos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos? E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna.
Mathæum XXV, 31-46.
126) O que nos ensina o sétimo artigo do Credo: de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos?
O sétimo artigo do Credo ensina-nos que, no fim do mun do, Jesus Cristo, pleno de glória e majestade, virá do Céu para julgar todos os homens, bons e maus, e para dar a cada um a recompensa ou o castigo que terá merecido.
127) Se cada um de nós, imediatamente após a morte é julgado por Jesus Cristo no juízo particular, por que todos seremos julgados no Juízo universal?
Todos seremos julgados no Juízo universal por várias ra zões:
1º para glória de Deus;
2º para glória de Jesus Cristo;
3º para glória dos Santos;
4º para confusão dos ímpios;
5º finalmente, para que o corpo, depois da ressurreição universal, tenha juntamente com a alma a sua sentença de recompensa ou de punição.
128) Como se manifestará a glória de Deus no Juízo universal? No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Deus, porque todos hão de reconhecer a justiça com que Deus gover na o mundo, embora se vejam às vezes os bons a sofrer e os maus em prosperidade.
129) Como se manifestará a glória de Jesus Cristo no Juízo uni versal?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória de Jesus Cristo, porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens, aparecerá então à face do mundo inteiro como Juiz su premo de todos.
130) Como é que no Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos?
No Juízo universal há de manifestar-se a glória dos Santos, porque muitos deles, que morreram desprezados pelos maus, hão de ser glorificados na presença de todos os homens.
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131) No Juízo universal qual será a confusão dos maus? No Juízo universal a confusão dos maus será enorme, espe cialmente a daqueles que oprimiram os justos, e a daqueles que, durante a vida, procuraram ser estimados, falsamente, por ho mens virtuosos e bons, pois verão manifestados, à vista de todo o mundo, os pecados que cometeram, mesmo os mais secretos.
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CAPÍTULO IX
D o oitavo artigo do “C redo ”
Três são os que testemunham no céu: o Pai, o Verbo e o Espí rito Santo; e estes três são um só [testemunho]. E três são os que testemunham na terra: o Espírito, a água e o sangue: e estes três são um só [testemunho].
Joannem I Epistula V, 7-8.
Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim.
Joannem XV, 26.
Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Por que, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pe cado, da justiça e do juízo. Convencerá o mundo a respeito do pe cado, que consiste em não crer em mim. Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto do meu Pai e vós já não me vereis; ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado.
Joannem XVI, 7-11
132) O que nos ensina o oitavo artigo do Credo: creio no Espírito Santo?
O oitavo artigo do Credo ensina-nos que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e que Ele é Deus eter no, infinito, onipotente, o Criador e Senhor de todas as coisas, assim como o Pai e o Filho.
133) De quem procede o Espírito Santo?
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, por meio da vontade e do amor, como de um só princípio.
134) Se o Filho procede do Pai, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, parece que o Pai e o Filho existem antes do Espírito Santo. Como então se diz, portanto, que todas as três Pessoas divinas são eternas?
Diz-se que todas as três Pessoas divinas são eternas porque o Pai gerou o Filho desde toda a eternidade, e do Pai e do Filho procede o Espírito Santo, também desde toda a eternidade.
135) Por que a terceira Pessoa da Santíssima Trindade é chamada particularmente com o nome de Espírito Santo?
A Pessoa da Santíssima Trindade é designada particular mente com o nome de Espírito Santo, porque procede do Padre e do Filho por meio de aspiração e de amor.
136) Que obra é atribuída especialmente ao Espírito Santo? Ao Espírito Santo atribui-se especialmente a santificação das almas.
137) O Pai e o filho também nos santificam, assim como o Espírito Santo?
Sim, todas as três Pessoas divinas igualmente nos santifi cam.
138) Se assim é, por que a santificação das almas é atribuída, em especial, ao Espírito Santo?
Atribui-se em especial ao Espírito Santo a santificação das almas porque é uma obra de amor, e as obras de amor são atri buídas ao Espírito Santo.
139) Quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos? O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos no dia de Pen tecostes, ou seja, cinquenta dias após a Ressurreição de Jesus Cristo, e dez dias depois de sua Ascensão.
140) Onde estavam os Apóstolos nos dez dias antes de Pentecos tes?
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Os Apóstolos estavam reunidos no Cenáculo em compa nhia da Virgem Maria e dos outros discípulos, e perseveravam na oração, à espera do Espírito Santo que Jesus lhes havia pro metido.
141) Que efeitos produziu o Espírito Santo nos Apóstolos? O Espírito Santo confirmou na fé os Apóstolos, plenificou- -os de luzes, de força, de caridade e da abundância de todos os seus dons.
142) O Espírito Santo foi enviado apenas para os Apóstolos? O Espírito Santo foi enviado para toda a Igreja e para todas as almas fiéis.
143) O que o Espírito Santo opera na Igreja?
O Espírito Santo, como a alma no corpo, vivifica a Igreja com a sua graça e com os seus dons; estabelece nela o reino da verdade e do amor; e assiste-Lhe para que oriente os seus filhos com firmeza no caminho do Céu.
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CAPÍTULO X
D o nono artigo do “C redo ”
Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salte ador. Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz à pastagem. Depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora, vai adiante delas; e as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz. Mas não seguem o estranho; antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. Jesus disse-lhes essa parábola, mas não entendiam do que ele queria falar.
Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem. O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.
Joannem X, 1-10.
Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edi fício de Deus.
Corinthios Epistula I, III, 9.
§ 1º - Da Igreja em geral
144) Que nos ensina o nono artigo do Credo: creio na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos?
O nono artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo estabe leceu na terra uma sociedade visível, que se chama Igreja Cató-
lica, e que todas as pessoas que fazem parte desta Igreja estão em comunhão uns com os outros.
145) Por que depois do artigo que trata do Espírito Santo, fala-se em seguida da Igreja Católica?
Depois do artigo que trata do Espírito Santo fala-se em se guida da Igreja Católica para indicar que toda a santidade da própria Igreja procede do Espírito Santo, que é o autor de toda a santidade.
146) Que quer dizer esta palavra Igreja?
A palavra Igreja quer dizer convocação ou reunião de mui tas pessoas.
147) Quem nos convocou ou chamou para a Igreja de Jesus Cris to?
Fomos chamados para a Igreja de Jesus Cristo por uma gra ça especial de Deus, para que com a luz da fé e pela observân cia da lei divina, prestemos-Lhe o culto devido, e cheguemos à vida eterna.
148) Onde estão os membros da Igreja?
Os membros da Igreja encontram-se parte no Céu, e formam a Igreja triunfante ; parte se encontra no Purgatório, e formam a Igreja padecente ; parte está na terra, e formam a Igreja militante .
149) Estas diferentes partes da Igreja constituem uma só Igreja? Sim, estas diferentes partes da Igreja constituem uma só Igreja e um só corpo, porque têm a mesma cabeça que é Jesus Cristo, o mesmo espírito que as anima e as une e o mesmo ob jetivo, que é a felicidade eterna, que uns já estão desfrutando e outros esperam.
150) A qual das partes da Igreja se refere essencialmente este nono artigo?
Este nono artigo do Credo refere-se essencialmente à Igreja militante, que é a Igreja na qual estamos atualmente.
§ 2º - Da Igreja em particular
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Não vos torneis causa de escândalo, nem para os judeus, nem para os gentios, nem para a Igreja de Deus.
Corinthios Epistula II, X, 32.
151) Que é a Igreja Católica?
A Igreja Católica é a sociedade ou congregação de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma fé e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos Sacramentos, e obedecem aos legítimos Pastores, principalmente ao Romano Pontífice.
152) Dizei precisamente o que é necessário para ser um membro da Igreja.
Para alguém ser membro da Igreja, é necessário estar bati zado, crer e professar a doutrina de Jesus Cristo, participar dos mesmos Sacramentos, reconhecer o Papa e os outros legítimos Pastores da Igreja.
153) Quem são os legítimos Pastores da Igreja?
Os legítimos Pastores da Igreja são o Pontífice Romano, isto é, o Papa, que é o Pastor universal, e os Bispos. Além disso, sob a dependência dos Bispos e do Papa, têm parte no oficio de Pas tores os outros Sacerdotes e especialmente os párocos.
154) Por que dizeis que o Pontífice Romano é o Pastor Universal da Igreja?
Porque Jesus Cristo disse a São Pedro, o primeiro Papa: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e dar-te-ei as chaves do reino dos Céus, e tudo o que ligares na terra, será ligado no Céu; e tudo o que desligares na terra, será desligado também no Céu”. E disse-lhe mais: “Apascenta os meus cordei
ros, apascenta as minhas ovelhas”.
155) Então não pertencem à Igreja de Jesus Cristo as sociedades de pessoas batizadas que não reconhecem o Romano Pontífice por seu chefe?
Não, todos os que não reconhecem o Romano Pontífice por seu chefe não pertencem à Igreja de Jesus Cristo.
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156) Como se distingue a Igreja de Jesus Cristo, de tantas socieda des ou seitas, fundadas por homens e que se dizem cristãs? Distingue-se a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, de tantas sociedades ou seitas fundadas por homens e que se dizem cris tãs, por quatro notas características. Ela é Una, Santa, Católica e Apostólica.
157) Por que dizeis que a Igreja é Una?
Digo que a verdadeira Igreja é Una, porque os seus filhos, independentemente de tempo e lugar, estão unidos entre si na mesma fé, no mesmo culto, na mesma lei e na participação dos mesmos Sacramentos, sob o mesmo chefe visível, o Romano Pontífice.
158) Não poderia haver mais de uma Igreja?
Não, não pode haver mais de uma Igreja, porque uma vez que há um só Deus, uma só Fé e um só Batismo, assim também não há nem pode haver senão uma só Igreja verdadeira.
159) Mas não se chamam também igrejas o conjunto dos fiéis de uma nação, ou de uma diocese?
Chamam-se igrejas também o conjunto dos fiéis unidos de uma nação ou de uma diocese, mas são sempre porções da Igre ja universal, formando com ela uma só Igreja.
160) Por que dizeis que a verdadeira Igreja é Santa?
Chamo Santa a verdadeira Igreja porque Jesus Cristo, a sua cabeça invisível, é Santo, santos são muitos de seus membros, santas são a sua Fé e a sua Lei, santos os seus Sacramentos, e fora dela não há nem pode haver verdadeira santidade.
161) Por que a Igreja é chamada Católica?
A verdadeira Igreja é chamada Católica, que quer dizer uni versal, porque abrange os fiéis de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as idades e condições, e todos os homens do mundo são chamados a fazer parte dela.
162) Por que a Igreja é também chamada Apostólica? A verdadeira Igreja é também chamada Apostólica porque remonta sem interrupção até os Apóstolos; porque crê e ensina
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tudo o que creram e ensinaram os Apóstolos; e porque é guiada e governada por seus legítimos sucessores.
163) E por que a verdadeira Igreja é também chamada Romana? A verdadeira Igreja é também chamada Romana, porque os quatro caracteres da unidade, santidade, catolicidade e aposto licidade são encontrados somente na Igreja que tem por chefe o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro.
164) Como é constituída a Igreja de Jesus Cristo?
A Igreja de Jesus Cristo é constituída como uma sociedade verdadeira e perfeita; e nela, como em uma pessoa moral, pode mos distinguir a alma e o corpo.
165) Em que consiste a alma da Igreja?
A alma da Igreja consiste no que Ela tem de interior e de espiritual, isto é, a Fé, a Esperança, a Caridade, os dons da graça e do Espírito Santo, e todos os tesouros celestes que lhe provie ram dos merecimentos de Cristo Redentor e dos Santos.
166) E o corpo da Igreja, em que consiste?
O corpo da Igreja consiste no que Ela tem de visível e de externo, tanto na congregação de associação dos seus membros, tanto no seu culto e no seu ministério de ensino, tanto no seu governo e ordem externa.
167) Para nos salvarmos é suficiente sermos apenas um membro da Igreja Católica?
Não, não é suficiente para nos salvarmos sermos apenas membros da Igreja Católica, mas é preciso que sejamos seus membros vivos.
168) Quais são os membros vivos da Igreja?
Os membros vivos da Igreja são todos os justos e somen te eles, isto é, todos aqueles que estão atualmente na graça de Deus.
169) E quais são os membros mortos da Igreja?
Os membros mortos da Igreja são os fiéis que estão em pe cado mortal.
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170) Pode alguém salvar-se fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana?
Não. Fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana, ninguém pode salvar-se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé, que era uma figura desta Igreja.
171) Como então se salvaram os antigos Patriarcas, os Profetas e todos os outros justos do Antigo Testamento?
Todos os justos do Antigo Testamento se salvaram em vir tude da fé que tinham em Cristo que havia de vir, por meio da qual eles já pertenciam espiritualmente a esta Igreja.
172) Mas quem se encontrasse, sem culpa sua, fora da Igreja, po deria salvar-se?
Quem, encontrando-se sem culpa sua — quer dizer, em boa fé — fora da Igreja, tivesse recebido o batismo, ou tivesse dese jo, ao menos implícito, de o receber e, além disso, procurasse sinceramente a verdade, e cumprisse a vontade de Deus da me lhor maneira possível, ainda que separado do corpo da Igreja, estaria unido à alma dela, e portanto no caminho da salvação.
173) E quem, sendo um membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, salvar-se-ia?
Quem, mesmo sendo um membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, seria membro morto, e portanto não se salvaria, porque para a salvação de um adulto requer-se não só o Batismo e a fé, mas também as obras em con
formidade com a fé.
174) Somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igre ja ensina?
Sim, somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja nos ensina, e Jesus Cristo declara que quem não crê já está condenado.
175) Somos também obrigados a cumprir tudo o que a Igreja man da?
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Sim, somos obrigados a fazer tudo o que a Igreja manda, porque Jesus Cristo disse aos Pastores da Igreja: “Quem vos ouve, a Mim ouve, e quem vos despreza, a Mim despreza”.
176) Pode a Igreja enganar-se nas coisas que nos propõe para acre ditar?
Não. Nas coisas que nos propõe para acreditar, a Igreja não pode errar, porque, de acordo com a promessa de Jesus Cristo, ela é perpetuamente assistida pelo Espírito Santo.
177) A Igreja Católica é portanto infalível?
Sim, a Igreja Católica é infalível. Por isso aqueles que recu sam suas definições perdem a fé, e tornam-se hereges.
178) A Igreja Católica pode ser destruída ou perecer? Não. A Igreja Católica pode ser perseguida, mas não pode ser destruída nem perecer. Ela há de durar até ao fim do mun do, porque até ao fim do mundo Jesus Cristo estará com Ela, como prometeu.
179) Por que a Igreja Católica é tão perseguida?
A Igreja Católica é tão perseguida porque assim foi também perseguido o seu Divino Fundador, e porque reprova os vícios, combate as paixões e condena todas as injustiças e todos os er ros.
180) Há mais outros deveres dos católicos para com a Igreja? Todo católico deve ter um amor sem limites para com a Igreja, considerar-se infinitamente feliz e honrado por perten cer a Ela, e empenhar-se pela glória e aumento dela com todos os meios ao seu alcance.
§ 3º - Da Igreja docente e da Igreja discente Um anjo do Senhor dirigiu-se a Filipe e disse: Levanta-te e vai para o sul, em direção do caminho que desce de Jerusalém a Gaza, a Deserta. Filipe levantou-se e partiu. Ora, um etíope, eunuco, mi nistro da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros, tinha ido a Jerusalém para adorar. Voltava sen tado em seu carro, lendo o profeta Isaías. O Espírito disse a Filipe: Aproxima-te para bem perto deste carro. Filipe aproximou-se e ou-
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viu que o eunuco lia o profeta Isaías, e perguntou-lhe: Porventura entendes o que estás lendo? Respondeu-lhe: Como é que posso, se não há alguém que mo explique? E rogou a Filipe que subisse e se sentasse junto dele.
A passagem da Escritura, que ia lendo, era esta: Como ovelha, foi levado ao matadouro; e como cordeiro mudo diante do que o tosquia, ele não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi consu mado o seu julgamento. Quem poderá contar a sua descendência? Pois a sua vida foi tirada da terra (Is 53,7s.). O eunuco disse a Filipe: Rogo-te que me digas de quem disse isto o profeta: de si mesmo ou de outrem? Começou então Filipe a falar, e, principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus.
Continuando o caminho, encontraram água. Disse então o eu nuco: Eis aí a água. Que impede que eu seja batizado? [Filipe res pondeu: Se crês de todo o coração, podes sê-lo. Eu creio, disse ele, que Jesus Cristo é o Filho de Deus.] E mandou parar o carro. Ambos desceram à água e Filipe batizou o eunuco.
Mal saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe dos olhares do eunuco, que, cheio de alegria, continuou o seu caminho. Filipe, entretanto, foi transportado a Azoto. Passando além, pre gava o Evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesareia. Actus Apostolorum VIII, 26-40.
181) Há distinção entre os membros que compõem a Igreja? Entre os membros que compõem a Igreja há distinção muito importante, porque há uns que comandam e outros que obede cem, uns que ensinam e outros que são ensinados.
182) Como é chamada a parte da Igreja que ensina?
A parte da Igreja que ensina é chamada docente, ou ensi nante.
183) E a parte da Igreja que é ensinada, como é chamada? A parte da Igreja que é ensinada é chamada discente.
184) Quem estabeleceu esta distinção na Igreja?
Esta distinção na Igreja foi estabelecida pelo próprio Jesus Cristo.
185) A Igreja docente e a Igreja discente são, pois, duas Igrejas distintas?
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A Igreja docente e a Igreja discente são duas partes distintas de uma só e mesma Igreja, como no corpo humano a cabeça é distinta dos outros membros, e, no entanto, forma com eles um só corpo.
186) De que pessoas se compõe a Igreja docente?
A Igreja docente é composta de todos os Bispos — quer se encontrem dispersos, quer se encontrem reunidos em Concílio — unidos à sua cabeça, o Romano Pontífice.
187) E a Igreja discente, de que pessoas é composta?
A Igreja discente é composta de todos os fiéis.
188) Quais são as pessoas que na Igreja têm autoridade para en sinar?
Os que têm na Igreja o poder de ensinar são o Papa e os Bis pos e, sob a dependência destes, os outros ministros sagrados.
189) Somos obrigados a ouvir a Igreja docente?
Sim, sem dúvida, todos somos obrigados a ouvir a Igreja docente, sob pena de condenação eterna, porque Jesus Cristo disse aos Pastores da Igreja, na pessoa dos Apóstolos: “Quem vos ouve, a Mim ouve, e quem vos despreza, a Mim despreza”.
190) Além da autoridade para ensinar, a Igreja tem algum outro poder?
Sim, além da autoridade para ensinar, a Igreja tem especial mente o poder de administrar as coisas santas, de fazer leis e de exigir a sua observância.
191) O poder dos membros da hierarquia eclesiástica vem do povo? O poder que têm os membros da hierarquia eclesiástica não vem do Povo, e seria heresia dizer isso: mas, o poder vem so mente de Deus.
192) A quem compete o exercício de tais poderes?
O exercício destes poderes é conferido unicamente ao corpo hierárquico, isto é, ao Papa e aos Bispos a ele subordinados.
§ 4º - Do Papa e dos Bispos
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Chegando ao território de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas.
Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!
Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edifica rei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a nin guém que ele era o Cristo..
Mathæum XVI, 13-20.
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193) Quem é o Papa?
O Papa, a quem também chamamos Sumo Pontífice ou ainda Romano Pontífice, é o sucessor de São Pedro na Sede de Roma, o Vigário de Jesus Cristo na terra, e o chefe visível da Igreja.
194) Por que o Romano Pontífice é o sucessor de São Pedro? O Romano Pontífice é o sucessor de São Pedro, porque São Pedro reuniu em sua pessoa a dignidade de Bispo de Roma e de chefe da Igreja e porque, por disposição divina, estabeleceu em Roma a sua sede, e ali morreu. Por isso quem é eleito Bispo de Roma é também herdeiro de toda a sua autoridade.
195) Por que o Romano Pontífice é o Vigário de Jesus Cristo? O Romano Pontífice é o Vigário de Jesus Cristo porque ele O representa na terra, e faz as suas vezes no governo da Igreja.
196) Por que o Romano Pontífice é o chefe visível da Igreja? O Romano Pontífice é o chefe visível da Igreja porque a di rige visivelmente com a mesma autoridade de Jesus Cristo, que é a cabeça invisível da Igreja.
197) Qual é, então, a dignidade do Papa?
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A dignidade do Papa é a mais alta entre todas as dignidades da terra e dá-lhe o poder supremo e imediato sobre todos e cada um dos Pastores e dos fiéis.
198) Pode o Papa errar ao ensinar à Igreja?
O Papa não pode errar, é infalível nas definições em matéria de fé e costumes.
199) Por que razão o Papa é infalível?
O Papa é infalível em razão da promessa de Jesus Cristo e da contínua assistência do Espírito Santo.
200) Quando o Papa é infalível?
O Papa é infalível somente quando, na sua qualidade de Pastor e Mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina relativa à fé e aos costumes, que deve ser seguida por toda a Igreja.
201) Quem não acreditasse nas definições solenes do Papa, que pecado cometeria?
Quem não acreditasse nas definições solenes do Papa, ou ainda só duvidasse delas, pecaria contra a fé; e, se se obstinasse nesta incredulidade, já não seria mais católico, mas um herege.
202) Com que objetivo Deus concedeu o dom da infalibilidade ao Papa?
Deus concedeu o dom da infalibilidade ao Papa com o ob jetivo de que todos estejam certos e seguros da verdade que a Igreja ensina.
203) Quando foi definido que o Papa é infalível?
A infalibilidade do Papa foi definida pela Igreja no Concílio do Vaticano; e, se alguém ousasse contradizer esta definição, seria herege e excomungado.
204) A Igreja, ao definir que o Papa é infalível, estabeleceu por ventura uma nova verdade de fé?
Não. A Igreja, ao definir que o Papa é infalível, não estabele ceu uma nova verdade de fé, mas apenas definiu, para se opor a novos erros, que a infalibilidade do Papa, contida já na Sagrada
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Escritura e na Tradição, é uma verdade revelada por Deus, e portanto, deve ser crida como dogma ou artigo de fé.
205) Como todo católico deve proceder para com o Papa? Todo o católico deve reconhecer o Papa como Pai, Pastor e Mestre universal, e estar unido a ele de mente e coração.
206) Depois do Papa quais são, por instituição divina, as figuras mais venerandas na Igreja?
Depois do Papa, por instituição divina, as figuras mais ve nerandas da Igreja são os Bispos.
207) Quem são os Bispos?
Os Bispos são os Pastores dos fiéis, estabelecidos pelo Es pírito Santo para governar a Igreja de Deus, nas sedes que lhes são confiadas sob a dependência do Romano Pontífice.
208) O que é o Bispo na sua diocese?
O Bispo em sua diocese é o Pastor legítimo, o Pai, o Mestre, o superior de todos os fiéis, eclesiásticos e leigos, que pertencem à mesma diocese.
209) Por que o Bispo é chamado Pastor legítimo?
O Bispo é chamado Pastor legítimo porque a jurisdição, ou seja, o poder que tem para governar os fiéis de sua diocese, foi- -lhe conferido segundo as normas e as leis da Igreja.
210) De quem são sucessores o Papa e os Bispos?
O Papa é sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e os Bispos são sucessores dos Apóstolos, no que diz respeito ao governo ordinário da Igreja.
211) Deve o fiel estar unido ao seu Bispo?
Sim, todo o fiel, eclesiástico ou leigo, deve permanecer uni do em espírito e coração a seu próprio Bispo que está em graça e comunhão com a Sé Apostólica.
212) Como deve proceder o fiel para com o seu Bispo? Todo o fiel, eclesiástico ou leigo, deve respeitar, amar e hon rar o seu Bispo, e prestar-lhe obediência em tudo o que se refere ao bem das almas e ao governo espiritual da diocese.
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213) Quais são os auxiliares do Bispo na cura das almas? Os auxiliares do Bispo na cura das almas são os Sacerdotes, e principalmente os párocos.
214) Quem é o pároco?
O pároco é um Sacerdote designado para presidir e dirigir, sob a dependência do Bispo, uma parte da diocese, que é cha mada paróquia.
215) Que deveres têm os fiéis para com o seu pároco? Os fiéis devem permanecer unidos ao seu pároco, ouvi-lo com docilidade, professar-lhe respeito e submissão em tudo o que interessa ao bem da paróquia.
5º - Da comunhão dos Santos
Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações.
Actus Apostolorum, II, 42.
216) Que nos ensina o nono artigo do Credo com estas palavras: na comunhão dos Santos?
Com as palavras: na comunhão dos Santos, o nono artigo do Credo ensina-nos que na Igreja, pela íntima união que existe entre todos os seus membros, são comuns os bens espirituais, assim interiores como exteriores, que lhe pertencem.
217) Quais são os bens comuns interiores na Igreja?
Os bens comuns interiores na Igreja são: a graça que se re cebe nos Sacramentos, a Fé, a Esperança, a Caridade, os méritos infinitos de Jesus Cristo, os méritos superabundantes da Santís sima Virgem e dos Santos, e o fruto de todas as boas obras que na mesma Igreja se realizem.
218) Quais são os bens exteriores comuns na Igreja?
Os bens exteriores comuns na Igreja são: os sacramentos, o Santo Sacrifício da Missa, as orações públicas, as funções reli giosas, e todas as outras práticas exteriores que unem entre si os fiéis.
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219) Nesta comunhão de bens entram todos os filhos da Igreja? Na comunhão dos bens interiores inserem-se somente os cristãos que estão na graça de Deus; aqueles que estão em peca do mortal não participam desses bens.
220) Por que não participam de todos esses bens aqueles que estão em pecado mortal?
Porque a graça de Deus é o que une os fiéis em Deus e uns aos outros; portanto, aqueles que estão em pecado mortal, não tendo a graça de Deus, estão excluídos da comunhão dos bens espirituais.
221) Então os cristãos que estão em pecado mortal não tiram ne nhum proveito dos bens interiores e espirituais da Igreja? Os cristãos que estão em pecado mortal ainda assim tiram algum proveito dos bens interiores e espirituais da Igreja, uma vez que conservam o caráter de cristãos, que é indelével, e são auxiliados pelas orações e boas obras dos fiéis, para obterem a graça da conversão a Deus.
222) Aqueles que estão em pecado mortal podem participar dos bens exteriores da Igreja?
Aqueles que estão em pecado mortal podem participar dos bens exteriores da Igreja, desde que não estejam separados da mesma Igreja pela excomunhão.
223) Por que os membros desta comunhão, considerados no seu conjunto, são chamados Santos?
Os membros desta comunhão são chamados Santos, porque todos são chamados à santidade, e foram santificados pelo Ba tismo, e muitos deles já atingiram a santidade perfeita.
224) A comunhão dos Santos estende-se também ao Céu e ao Pur gatório?
Sim, a comunhão dos Santos estende-se também ao Céu e ao Purgatório, porque a caridade une as três Igrejas: triunfante, padecente e militante; e os Santos rogam a Deus por nós e pelas almas do Purgatório, e nós damos honra e glória aos Santos, e
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podemos aliviar as almas do Purgatório, aplicando, em sufrágio delas, Missas, esmolas, indulgências e outras boas obras.
§ 6º - Daqueles que estão fora da Igreja
Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-
-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligar des sobre a terra será também desligado no céu.
Mathæum XVIII,15-18.
225) Quem são os que não participam da comunhão dos Santos? Aqueles que não participam da comunhão dos Santos são, na outra vida, os condenados, e aqueles que estão fora da ver dadeira Igreja.
226) Quem são os que estão fora da verdadeira Igreja? Encontram-se fora da verdadeira Igreja os infiéis, os judeus, os hereges, os apóstatas, os cismáticos e os excomungados.
227) Quem são os infiéis?
Os infiéis são aqueles que não foram batizados e não creem em Jesus Cristo, seja porque creem e adoram falsas divindades, como os idólatras; seja porque, embora admitam o único Deus verdadeiro, não creem em Cristo, o Messias, nem como vindo na pessoa de Jesus Cristo, nem como havendo de vir ainda: tais são os maometanos e outros semelhantes.
228) Quem são os judeus?
Os judeus são aqueles que professam a lei de Moisés, não receberam o batismo, nem creem em Jesus Cristo.
229) Quem são os hereges?
Os hereges são aqueles cristãos que obstinadamente se re cusam a crer em alguma verdade revelada por Deus e ensinada
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como de fé pela Igreja Católica: por exemplo, os arianos, os nes torianos e as várias seitas dos protestantes.
230) Quem são os apóstatas?
Os apóstatas são aqueles que abjuram, isto é, renegam, com ato exterior, a fé católica, que antes professavam.
231) Quem são os cismáticos?
Os cismáticos são os cristãos que, não negando explicita mente dogma algum, voluntariamente se separam da Igreja de Jesus Cristo, ou de seus legítimos Pastores.
232) Quem são os excomungados?
Os excomungados são aqueles que por faltas graves são ful minados com excomunhão pelo Papa ou pelo Bispo, e portanto são separados, como indignos, do corpo da Igreja, que por sua vez espera e deseja a sua conversão.
233) Deve-se temer a excomunhão?
Deve-se temer grandemente a excomunhão, porque é a pu nição mais grave e mais terrível que a Igreja pode infligir aos seus filhos rebeldes e obstinados.
234) Os excomungados ficam privados de quais bens? Os excomungados ficam privados das orações públicas, dos Sacramentos, das indulgências e excluídos da sepultura eclesi ástica.
235) Podemos auxiliar de alguma maneira os excomungados? Nós podemos auxiliar de alguma maneira os excomunga dos e todos os outros que estão fora da verdadeira Igreja com advertências salutares, com orações e boas obras, suplicando a Deus que pela sua misericórdia lhes conceda a graça de se con verterem à Fé e de entrarem na comunhão dos Santos.
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CAPÍTULO XI
D o décimo artigo do “C redo ”
Que é mais fácil dizer ao paralítico: Os pecados te são perdo ados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para que conheçais o poder concedido ao Filho do homem sobre a terra (dis se ao paralítico), eu te ordeno: levanta-te, toma o teu leito e vai para casa.
No mesmo instante, ele se levantou e, tomando o leito, foi-se embora à vista de todos. A multidão inteira encheu-se de profunda admiração e puseram-se a louvar a Deus, dizendo: Nunca vimos coisa semelhante.
Marcum II, 9-12.
Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os dis cípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco! Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizen do-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser- -lhes-ão retidos.
Joannem XX, 20-21.
236) Que nos ensina o décimo artigo do Credo: na remissão dos pecados?
O décimo artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo dei xou à sua Igreja o poder de perdoar os pecados.
237) A Igreja pode perdoar todos os tipos de pecados?
Sim, a Igreja pode perdoar todos os pecados, por numero sos e graves que sejam, porque Jesus Cristo Lhe concedeu ple nos poderes de ligar e desligar.
238) Quem são os que na Igreja exercem este poder de perdoar os pecados?
Os que na Igreja exercem o poder de perdoar os pecados são, em primeiro lugar, o Papa, o único que possui a plenitude de tal poder; em seguida, os Bispos e, sob a dependência dos Bispos, os Sacerdotes.
239) Como a Igreja perdoa os pecados?
A Igreja perdoa os pecados através dos méritos de Jesus Cristo, administrando os Sacramentos por Ele instituídos para este fim, especialmente o Batismo e a Penitência.
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CAPÍTULO XII
D o undécimo artigo do “C redo ”
Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: A paz esteja convosco!
Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos , como vedes que tenho .
E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés.
Mas, vacilando eles ainda e estando transportados de alegria, perguntou: Tendes aqui alguma coisa para comer?
Então ofereceram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles .
Depois lhes disse: Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos.
Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as Es crituras, dizendo: Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Lucam XXIV, 36-47.
Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.
Romanos VIII, 11.
Mas, dirá alguém, como ressuscitam os mortos? E com que corpo vêm? Insensato! O que semeias não recobra vida, sem antes morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo da planta que há de nascer, mas o simples grão, como, por exemplo, de trigo ou de alguma outra planta. Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; num mo
mento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta (porque a trombeta soará). Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. É necessário que este corpo corrup tível se revista da incorruptibilidade, e que este corpo mortal se re vista da imortalidade.
Corinthios Epistula I, XV, 35-37, 42. 52-53.
240) Que nos ensina o décimo primeiro artigo do Credo: a ressur reição da carne?
O décimo primeiro artigo do Credo ensina-nos que todos os homens ressuscitarão, retomando toda alma o corpo que teve nesta vida.
241) Como será a ressurreição dos mortos?
A ressurreição dos mortos realizar-se-á por virtude de Deus Onipotente, a Quem nada é impossível.
242) Quando ocorrerá a ressurreição dos mortos?
A ressurreição de todos os mortos ocorrerá no fim do mun do e, em seguida, o Juízo universal.
243) Por que Deus quer a ressurreição do corpo?
Deus quer a ressurreição do corpo para que a nossa alma, tendo feito o bem ou o mal unida ao corpo, juntamente com ele seja recompensada ou punida.
244) Todas os homens ressuscitarão da mesma maneira? Não, haverá enorme diferença entre os corpos dos eleitos e os corpos dos condenados; porque somente os corpos dos elei tos terão, à semelhança de Jesus Cristo ressuscitado, as qualida des dos corpos gloriosos.
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245) Quais são essas qualidades que adornarão os corpos gloriosos dos bem-aventurados?
As qualidades que adornarão os corpos gloriosos dos bem- -aventurados são:
1º a impassibilidade, pela qual deixarão de estar sujei tos a males, nenhuma espécie de dor, nem às necessida des de alimento, de repouso e de qualquer outra coisa; 2º a claridade, pela qual eles resplandecerão como o sol
e as estrelas;
3º a agilidade, pela qual eles poderão passar num mo mento sem fadiga, de um lugar para outro e da terra ao Céu;
4º a sutileza, pela qual eles poderão, sem obstáculo, pe netrar através de qualquer corpo, como fez Jesus Cristo ressuscitado.
246) Como serão os corpos dos condenados?
Os corpos dos condenados serão destituídos das qualidades dos corpos gloriosos dos bem-aventurados, e trarão a horrível marca da reprovação eterna.
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CAPÍTULO XIII
D o duodécimo artigo do “C redo ”
Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?
Disse-lhe Jesus: Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, ob serva os mandamentos. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue- -me!
Mathæum, XIX, 16-19. 21.
Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste.
Joannem XVII, 3.
247) Que nos ensina o último artigo do Credo: na vida eterna? O último artigo do Credo ensina-nos que depois desta vida há uma outra vida, ou eternamente bem-aventurada para os eleitos no Paraíso, ou eternamente infeliz para os condenados ao Inferno.
248) Podemos compreender a felicidade do Paraíso?
Não, não podemos compreender a felicidade do Paraíso, porque excede os conhecimentos de nossa mente limitada, e
porque os bens do Céu não podem ser comparados aos bens deste mundo.
249) Em que consiste a felicidade dos eleitos?
A felicidade dos eleitos consiste em ver, amar e possuir para sempre a Deus, fonte de todo o bem.
250) Em que consiste a desgraça dos condenados?
A desgraça dos condenados consiste em serem para sempre privados da visão de Deus, e punidos com tormentos eternos no Inferno.
251) Os bens do Paraíso e os males do Inferno são por agora ape nas para as almas?
Os bens do Paraíso e os males do Inferno, por agora, são só para as almas porque por enquanto só as almas estão no Pa raíso, ou no Inferno; mas depois da ressurreição da carne, os homens, na plenitude da sua natureza, isto é, em corpo e alma, serão ou felizes ou atormentados para sempre.
252) Serão iguais para os eleitos os bens do Paraíso, e para os con denados os males do Inferno?
Os bens do Paraíso para os bem-aventurados, e os males do Inferno para os condenados, serão iguais na substância e na duração eterna; mas na medida, isto é, em grau, serão maiores ou menores, segundo os méritos ou deméritos de cada um.
253) O que quer dizer a palavra Amém no fim do Credo? A palavra Amém no final das orações significa: assim seja; no fim do Credo significa: assim é, ou seja: creio ser absoluta mente verdadeiro tudo o que está contido nestes doze artigos, e estou mais certo disso do que se o visse com os meus olhos.
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S egunda P arte
D a O ração
CAPÍTULO 1
D a oração em geral
Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros: Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Gra
ças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros.
O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava se quer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!
Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exal tado.
Lucam XVIII, 9-14.
254) Do que trata a segunda parte da Doutrina Cristã? A segunda parte da Doutrina Cristã trata da oração em ge ral, e do Padre-Nosso em particular.
255) O que é a oração?
A oração é uma elevação da alma a Deus, para adorá-Lo, para Lhe dar graças e para Lhe pedir o que precisamos.
256) Como é dividida a oração?
A oração divide-se em mental e vocal. A oração mental é a que se faz somente com a alma; a oração vocal é aquela que é feita com palavras, acompanhadas pela atenção do espírito e da devoção do coração.
257) Há outros tipos de oração?
A oração também pode ser dividida em particular e pública.
258) Que é a oração particular?
A oração particular é a que cada um faz em privado, para si mesmo ou pelos outros.
259) Que é a oração pública?
A oração pública é a que fazem os ministros sagrados, em nome da Igreja, e pela salvação do povo fiel. Pode-se chamar também oração pública a que é feita em comum e publicamente pelos fiéis, como nas procissões, nas peregrinações e na Igreja.
260) Temos esperança fundamentada de obter por meio da oração os auxílios e graças de que necessitamos?
A esperança de obter de Deus as graças de que necessita mos, é fundamentada nas promessas de Deus onipotente, mi sericordioso e fidelíssimo, e nos merecimentos de Jesus Cristo.
261) Em nome de quem devemos pedir a Deus as graças de que necessitamos?
Devemos pedir a Deus as graças de que necessitamos, em nome de Jesus Cristo, como Ele mesmo nos ensinou e como pra tica a Igreja, a qual conclui sempre as suas orações com estas palavras: per Dominum nostrum Jesum Christum , que quer dizer: por Nosso Senhor Jesus Cristo.
262) Por que devemos pedir a Deus as graças em nome de Jesus Cristo?
Devemos pedir as graças em nome de Jesus Cristo, porque, sendo Ele o nosso mediador, somente por meio d’Ele podemos nos aproximar do trono de Deus.
263) Se a oração tem tal eficácia, por que muitas vezes as nossas orações não são atendidas?
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Muitas vezes as nossas orações não são atendidas, ou por que pedimos coisas que não convêm à nossa salvação eterna, ou porque não pedimos como deveríamos.
264) Quais são as principais coisas que devemos pedir a Deus? Devemos principalmente pedir a Deus a sua glória, a nossa salvação eterna e os meios para alcançá-la.
265) Não é lícito também pedir bens temporais?
Sim, é também lícito pedir a Deus os bens temporais, mas sempre sob a condição de que eles estejam em conformidade com a sua santíssima vontade, e não sejam impedimento para a nossa salvação eterna.
266) Se Deus sabe tudo aquilo de que necessitamos, por que deve mos rezar?
Ainda que Deus saiba tudo aquilo de que necessitamos, quer, no entanto, que nós rezemos, para que O reconheçamos como o doador de todos os bens, para Lhe testemunharmos a nossa humilde submissão, e para merecermos seu favor.
267) Qual é a primeira e a melhor disposição para tornar eficaz a nossa oração?
A primeira e a melhor disposição para tornar eficaz a nossa oração é estar em estado de graça, ou, não o estando, ao menos desejar recuperar esse estado.
268) Quais outras disposições são necessárias para bem rezar? Para bem rezar requerem-se especialmente o recolhimento, a humildade, a confiança, a perseverança e a resignação.
269) O que se entende por orar com recolhimento?
Significa pensar que nós falamos com Deus e, portanto, de vemos orar com todo o respeito e devoção, evitando, quanto possível, as distrações, que são todos os pensamentos estranhos à oração.
270) As distrações diminuem o mérito da oração?
Sim, quando nós mesmos as provocamos, ou não as repe limos com diligência. Se, porém, fizermos todo o possível para estarmos recolhidos em Deus, então as distrações não dimi-
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nuem o mérito da nossa oração, mas na verdade até podem aumentá-lo.
271) O que é necessário para fazermos oração com recolhimento? Antes da oração, devemos primeiramente afastar todas as ocasiões de distração, e durante a oração devemos pensar que estamos na presença de Deus, que nos vê e nos escuta.
272) O que quer dizer orar com humildade?
Significa: sinceramente reconhecer a própria indignidade, impotência e miséria, acompanhando a oração com a compos tura do corpo.
273) O que quer dizer orar com confiança?
Quer dizer que devemos ter uma firme esperança de ser mos atendidos, se disso resultar a glória de Deus e o nosso ver dadeiro bem.
274) Que quer dizer orar com perseverança?
Quer dizer que não devemos cansar-nos de orar, se Deus não nos atender imediatamente, mas, sim, que devemos conti nuar a orar ainda com maior fervor.
275) Que quer dizer orar com resignação?
Quer dizer que devemos conformar-nos com a vontade de Deus, que conhece melhor do que nós o que é necessário para a nossa salvação eterna, mesmo no caso em que as nossas orações não fossem atendidas.
276) Deus sempre atende as orações bem feitas?
Sim, Deus atende sempre as orações bem feitas; mas da ma neira que Ele sabe ser mais útil para a nossa salvação eterna, e não sempre de acordo com a nossa vontade.
277) Que efeitos produz em nós a oração?
A oração faz-nos reconhecer a nossa dependência, em todas as coisas, de Deus, Senhor supremo, faz-nos progredir na vir tude, alcança-nos de Deus misericórdia, fortalece-nos contra as tentações, conforta-nos nas tribulações, auxilia-nos nas nossas necessidades e obtém-nos a graça da perseverança final.
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278) Quando precisamos especialmente orar?
Devemos orar especialmente nos perigos, nas tentações e no momento da morte; além disso, devemos orar frequentemente, e é bom que o façamos pela manhã e à noite, e no princípio das ações importantes do dia.
279) Por quem devemos orar?
Devemos orar por todos; isto é, por nós mesmos, pelos nos sos parentes, superiores, benfeitores, amigos e inimigos; pela conversão dos pobres pecadores, por aqueles que estão fora da verdadeira Igreja, e pelas benditas almas do Purgatório.
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CAPÍTULO II
D a O ração D ominical
Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; per
doai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação. Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães; eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar.
E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que pro cura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá.
Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem.
Lucam XI, 1-13.
§ 1º - Da oração dominical em geral
280) Qual é a oração vocal mais excelente?